As mistificações constituem-se num grave problema para o Espiritismo, afetando-o principalmente no tocante à sua credibilidade. Por isso, a questão precisa ser analisada e enfrentada com sinceridade. Diria mesmo que este é um dever de todo espírita. Não nos convém tapar o sol com a peneira, pois é certo que há mistificações em nosso meio. E como há!
No presente artigo, pretendo trazer o tema para o debate, na esperança de que nos tornemos observadores mais atentos e críticos. É isso, aliás, o que Kardec recomendou em O Livro dos Médiuns: “se a intenção for realmente boa, eles (os homens sensatos e bem intencionados) farão a sua advertência de maneira conveniente e benévola, abertamente e não com subterfúgios”.
De início, salientamos que não há mistificadores sem mistificados. Trata-se, portanto, de uma via de mão dupla. “A facilidade com que certas pessoas aceitam tudo o que teria vindo do mundo invisível ... é o que encoraja os mistificadores”, disse Kardec. Por isso, devemos tomar cuidado para não sermos nós os encorajadores das mistificações. Como? Recebendo todas as informações com reserva e prudência. É o que nos aconselhou o Codificador do Espiritismo. Dessa forma, não nos enganarão tão facilmente.
Os mistificadores podem ser Espíritos desencarnados ou Espíritos encarnados (os homens – médiuns ou não). É sobre os homens-mistificadores que queremos tratar neste artigo, porque os Espíritos desencarnados mistificadores já foram muito bem caracterizados por Kardec em O Livro dos Médiuns (Capítulo XXVI – Das Manifestações Espíritas), tornando-se desnecessária, por ora, qualquer apreciação adicional acerca deles.
Apressadamente, poderíamos supor que os mistificadores (homens) são somente os que recorrem a fraudes em busca de recompensas financeiras. Há muitas mistificações que visam ao dinheiro fácil, sim, mas essas, logo, logo, acabam sendo desmascaradas. A maioria das mistificações, no entanto, passa despercebida, uma vez que não conseguimos enxergar os interesses que escondem, ou seja, a notoriedade, a distinção, o status e, em especial, o poder (de decisão).
Não estamos nos referindo ao jogo político que praticamos em nossos meios sociais, como família e local de trabalho. Somos seres políticos por natureza e fazemos política o tempo todo – nem sempre de forma sadia. Mas a questão aqui é outra. Estamos tratando de embustes, de enganações, de buscar o poder por meios escusos. Estamos tratando do uso da mentira, do uso da respeitabilidade que se dá a uma mensagem supostamente advinda do plano espiritual. Estamos nos referindo a regras de conduta ou de práticas impostas por homens que fingem adotar orientações ditadas por Espíritos superiores.
Antes de qualquer avaliação, é preciso lembrar que o Espiritismo é libertador, porquanto nos propõe uma fé raciocinada, que nos liberta da prisão do medo que outras crenças impõem: medo, por exemplo, de punição, quando supomos infringir uma “lei” que não passa de uma regra criada por algum mistificador. Com a fé raciocinada, não podemos aceitar ou temer algo que não faça sentido para nós; como obedecer a regras de conduta que tentam nos impor sem maiores explicações?
Cumpre admitir, por outro lado, que, ao alimentar a vaidade, tornamo-nos muitas vezes responsáveis por essa situação. Já meditaram sobre a distinção que é feita em nosso meio entre médiuns ostensivos e não ostensivos (contrariando a Doutrina)?
Os mistificadores utilizam-se de variados meios para a realização de seus propósitos, alguns dos quais poderíamos apresentar a título ilustrativo; no entanto, preferimos deixar a exemplificação para um próximo artigo. Até lá, ficamos torcendo para que a leitura deste texto possa suscitar análises, críticas e debates.
EDUARDO BATISTA DE OLIVEIRAMuita paz!
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