Enquanto lá fora o desespero caminha e a amargura dizima, eu quero lhe dizer que lhe ofereço um banquete ao amor. Eu gostaria Senhor, de ser a chuva generosa que caísse na terra porosa e reverdecesse o chão, mas como não vou conseguir, eu lhe quero pedir, para ser um copo de água fria, matando a sede e a agonia de quem anda na desesperação. Eu gostaria de ser como a Via Láctea de estrelas, para que as noites da Terra fossem mais belas, mas como não conseguirei, eu lhe pedirei para ser um pirilampo na noite escura, iluminando a amargura de quem anda na escuridão. Eu queria ser um jardim de flores, de todas as cores, para embelezar a Terra, mas na dor que minha alma encerra, se eu não puder ser um jardim, deixa-me ser uma rosa solitária na fresta da montanha, colocando beleza no sublime altar da natureza. Eu gostaria de ser a montanha altaneira para, do alto, abençoar a Terra inteira, mas como não lograrei, eu te rogarei para ser uma pedra pavimentando o chão, por onde marche o herói na conquista da amplidão. Eu gostaria de ser uma escada para elevar o triunfador ao seu nobre fanal, mas na minha pequenez, eu lhe peço desta vez, para ser apenas o primeiro degrau, eu gostaria de ser um trigal maduro para repletar de pão a mesa da Humanidade, mas se é demasiado para mim, então eu lhe peço para ser um grão que, caindo no chão, me multiplique num milhão e me transforme em pão para a sociedade. Eu gostaria de ser um pomar de frutos maduros para diminuir a fome e a estesia da criatura em agonia, mas lhe venho pedir para ser uma árvore com galhos projetando sombra na estrada para que, quando alguém passar de mansinho pelo meu caminho, eu lhe possa dizer olá, e se ele se voltar para me inquerir: que é isto? eu lhe possa contestar: sou teu irmão, dê-me tua mão, sou teu amigo, irei contigo e, lado a lado, eu possa lhe dizer: Senhor, eu gostaria de ser esteta, artista, trovador, musicista, orador, poeta, para falar da magia e da beleza da Tua glória, mas como nada sou, me falta o verbo e a mestria, deixa-me ser o companheiro da criatura deserdada que segue caminhando na estrada da alucinação e dando-lhe a mão de sustento lhe dizer: Senhor, muito obrigado porque nasci, obrigado por crer em Ti, pelo Teu amor, obrigado, Senhor!
Maria Dolores
Maria Dolores
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