O seu trabalho de procura foi muito intenso. Foi por toda a Itália, na época renascentista. Mas, afinal, depois de tanto se esforçar por achar, Leonardo Da Vinci encontrou o que tanto buscava. Ele queria encontrar o modelo ideal para Jesus para sua pintura “Última Ceia”. Apesar de procurar pelo país todo, foi na cidade de Milão, cidade onde ele, Leonardo, exercia suas funções de artista, acabou por encontrar um jovem muito belo, com fisionomia serena, quase um anjo. Combinou com ele que seria o modelo de Jesus, para o seu quadro. A escolha, como podemos ver, ao contemplarmos a obra, foi muito bem feita. Após quinhentos anos a obra continua merecendo irrestrita admiração.
Ao terminar o desenho da figura de Jesus, Leonardo ficou muito satisfeito com o resultado. Pagou regiamente o rapaz que lhe serviu de modelo. Para terminar, porém sua obra, faltavam alguns detalhes e – o mais importante – o rosto da figura de Judas Escariotes. O tempo foi passando e ele não conseguia encontrar o modelo apropriado e que reproduzisse satisfatoriamente aquele que havia atraiçoado Jesus. Necessitava ser uma figura taciturna e malévola. Muitos anos se passaram e Leonardo Da Vinci não achava a figura adequada. Estava quase desistindo em terminar seu quadro quando, um belo dia, andando pela cidade por assim dizer, tropeçou naquele que tinha todas as características que ele buscava. Era uma criatura esfarrapada, que dormia na calçada, embriagado. Da Vinci quase se perturbou perante a figura. Poderia dizer que via gravado no rosto daquele homem toda a maldade e crueldade que um ser humano pode abrigar. Quantos reveses e insucessos aquela pessoa havia passado. Mas, uma coisa, Leonardo Da Vinci sabia... tinha encontrado o modelo ideal para ser o Judas do seu quadro.
Com muito cuidado, encaminhou o homem até o refeitório do mosteiro, lugar onde executava a pintura do quadro. Insistiu durante algumas horas, trabalhando diligentemente para concluir o quadro. Quando estava terminando seu trabalho foi que aquele que lhe servia de modelo acordou do seu sono de embriagado. O bêbado, ao ver o quadro, disse:
- Eu já vi esse quadro.
- Mas, de onde? Indagou Da Vinci
- Ih... tem alguns bons anos. Eu servi de modelo para que o pintor fizesse o rosto de Jesus.
Leonardo da Vinci quase não acreditou. Quem diria que aquele que serviu de modelo para Jesus se transformaria no modelo para Judas Escariotes. Como é que pode, em poucos anos aquela pessoa se transformar daquela maneira?
Lembro-me do que um velho índio disse, certa vez, a respeito de seus conflitos internos: “Dentro de mim existem dois cachorros. Um deles é cruel e mau. O outro é muito bom. Os dois estão sempre lutando. Ao ser indagado qual dos dois ganharia a luta o sábio índio parou, refletiu e respondeu: Aquele que eu mais e melhor alimentar.”
Eurípedes Rodrigues dos Reis.
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